“O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da inteligência.” *
Essa frase de Leonardo Boff remete a um dos princípios que exercitamos na improvisação: cuidar do outro jogador e fazer com ele se sinta bem em cena. Jogamos procurando dar luz aos outros, valorizar suas ofertas e habilidades; jogamos para fazer o que é necessário e não para demonstrar a própria inteligência, criatividade ou sagacidade. E como isso é um compromisso de todos os envolvidos, acaba-se criando uma atmosfera de colaboração que encoraja novas ideias, experimentações e a própria criatividade coletiva.
“Os improvisadores experientes se distinguem pela sua generosidade, cortesia e habilidade de cuidar das necessidades de seus pares. São pessoas como essas que você quer ter ao seu lado da trincheira.” **
Essa é uma mudança sutil, mas extremamente importante em um ambiente de trabalho, por exemplo. Nossas atividades profissionais funcionam como uma grande rede, onde somos interdependentes e nossas ações reverberam no todo (colaboradores, fornecedores, clientes e sociedade são afetados). Quando trabalhamos com a mentalidade de jogar (trabalhar) para os outros essa rede é afetada positivamente, pois cria uma sinergia que favorece a capacidade de encontrar respostas mais rápidas, criativas e assertivas, afinal, todos trabalham para os outros e para aquilo que é necessário no momento e não para si – próprios.
O desafio, ao nosso entender, é possibilitar espaços de experimentação dessa nova postura, já que nossos locais de educação, trabalho, convívio e políticos, em sua grande maioria, ainda favorecem a competição e o individualismo. Devemos treinar respostas alinhadas com essa nova mentalidade para desconstruir nossas conservas e respostas automatizadas e assim favorecer o desenvolvimento de ambientes que estimulem nossa criatividade, liberdade e inteligência individual e social.
Que tal fazer um teste? Nos próximos dias procure estar mais atento às necessidades das pessoas a sua volta, proponha-se a ajudá-las com alguma tarefa, interesse-se mais pelas pessoas com quem você trabalha, procure saber o que elas estão fazendo ou precisando, elogie alguém (desde que seja verdadeiro). Perceba quais os reflexos dessas atitudes. É verdade que no começo pode parecer difícil, até artificial, pois muitos de nós não estamos acostumados a gestos como esses, mas é provável que o esforço valha à pena e em breve atitudes de cuidado sairão mais naturais e espontâneas e, possívelmente, aos poucos, as pessoas comecarão a retribuir da mesma forma. Não seria incrível viver em ambientes onde todos se cuidassem?
Ah, outra coisa, se você fizer essa experiência e quiser compartilhar com a gente ficaremos muito felizes 🙂
* retirado da obra Saber Cuidar, de Leonardo Boff, p.12.
** tradução livre da obra La sabiduría de la improvisación, de Patrícia Ryan Madson, p.142.
2 comentários Adicione o seu